sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Se Muito Sofri Já, Não Me Perguntes



Se Muito Sofri Já, Não Me Perguntes


Se muito sofri já, se ainda sofro
Por teu amor?!
Não me perguntes! que do inferno a vida
Não é pior! ...

Eu! vegetar da terra entre os felizes!
Que faço aqui?
Sonhos de amor, de glória, ¿ lá se foram
Atrás de ti!

A ver se encontro d`esperança um raio
Olho em redor,
E nada vejo, e mais profunda sinto
No peito a dor!

Que faço aqui? Dias cansados, anos
Sem fim ¿ durar!
Depois que te perdi, viver ainda,
Viver! penar! ...

Eu, não! Quem for feliz que preze a vida,
Tema perdê-la!
Por mim não tenho horror, nem tédio à morte,
Clamo por ela!

Bendita seja pois a que mandada
Me for ¿ por Deus.
Matar-me, não; que quero ver-te ainda
Feliz nos céus!

Mas no pego da dor, em que me abismo?
¿ Nesta aflição
Negra como a do cego que na estrada
Esmola o pão!

Como a do viajor que pelas trevas
Sem tino vai,
E, errado o trilho, se embrenhou nas matas,
Nem delas sai!

Neste viver sofrendo, errante, louco,
Mísero Jó,
Que amigos e inimigos à porfia
Pungem sem dó!

Às vezes, da amargura no remanso,
Ao Criador
Minha alma eleva cânticos de graças,
Hinos de amor!

Que se estivesse em mim renascer hoje,
Sofrer o que sofri...
Eu quisera viver para ainda amar-te
E amado ser por ti!

Gonçalves Dias

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